sábado, 1 de abril de 2017

Mentira e linguagem

Sempre achei que o homem é sincero quando mente. Mentir faz parte da nossa natureza. Sem a mentira não poderíamos poderia viver com os outros, e muito menos com nós mesmos.   
Há pelo menos um livro que dá razão, ou pelo menos prestígio filosófico, às minhas suspeitas. Trata-se de “Os Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira”, escrito pelo professor de Filosofia David Livingstone Smith. Segundo o autor, “mentir é tão natural quanto respirar”. Precisamos ser mentirosos até mesmo para assegurar nossa saúde psíquica, poisquem fala a verdade corre o risco de ser doente mental”.
Não se pretende aqui fazer uma defesa da falsidade e da hipocrisia. Não temos o direito de trair ou enganar os outros. A mentira a que me refiro é algo constitutivo do ser humano. Decorre de ele viver entre ritos, convenções, e ter a percepção de si e do mundo intermediada pela linguagem.
Como a linguagem nos afasta da essência das coisas, pois se engendra a partir de uma relação arbitrária entre significado e significante, ela nos lança numa teia de sentidos na qual é impossível discernir o ilusório do real. Por meio da linguagem, o homem inventa a si mesmo.
A partir do momento em que nasce a consciência linguística, nasce a mentira. Ela é, por assim, a grande criação do discurso. Os sofistas foram os primeiros a descobrir isso. Eles viram que por meio da retórica podiam influir na visão dos fatos, modificar a seu bel-prazer o valor das coisas.
Isso não significa que não existam verdades essenciais. O amor, por exemplo, é uma delas. Não vivemos sem amor, mas não conseguimos preservar esse belo sentimento dos artifícios da retórica (ou seja, da mentira).
A retórica se infiltrou em tudo que em sentido amplo, graças à energia criadora do amor, tende a promover a aproximação do homem com os seus semelhantes – de um bilhete de namorados ao discurso dos políticos, passando pelos manuais de autoajuda.
O que há nesses textos, senão promessas que jamais se cumprem?

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