domingo, 14 de janeiro de 2018

O verbo libertário de Winston Churchill

“O destino de uma nação” aborda a atuação de Winston Churchill como primeiro-ministro num momento extremamente delicado para a Europa. Hitler ameaçava invadi-la, e os políticos britânicos achavam que só um acordo com o Führer poderia impedir que isso ocorresse. Churchill (vivido ou “revivido” por Gary Oldman) discordava. Achava que nada poderia deter a ambição dos alemães, e um acordo não seria mais do que um eufemismo para a derrota.
O filme mostra a luta do primeiro-ministro para fazer prevalecer o seu ponto de vista.  Destaca a figura carismática e imprevisível do homem birrento (e às vezes bem-humorado), que tomava uísque no café da manhã. Poucos tinham uma visão tão ampla da História e conheciam tão bem os seus atores (de heróis a vilões como Hitler e Mussolini). Sua maior arma, porém, era a habilidade verbal.  
Não são poucos os manuais de literatura que fazem referência ao seu estilo conciso e vigoroso. Ele escolhia palavras curtas e preferia substantivos a adjetivos e advérbios. Sua obsessão pelo termo exato transparece no trabalho que dava à jovem datilógrafa (interpretada por Lily James) e na preocupação em retocar o discurso que faria à nação pela BBC; prestes a entrar no ar, ainda cortava e substituía passagens do manuscrito. Exemplos de concisão e rigor são as metonímias que aparecem em sua famosa exortação ao povo inglês: “Sangue” (luta, se necessário até à morte), suor (trabalho) e lágrimas (sofrimento)”.
Leitor de Cícero e Horácio (citados no filme), Churchill conhecia o poder e o alcance das palavras. Foi em grande parte graças a elas que, depois de sondar a vontade do povo (numa bizarra viagem de metrô), conseguiu a adesão entusiástica do Parlamento. Poucas figuras da História testemunham, como ele, a estreita associação que existe entre palavra e liberdade.
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(Foto: Chico Viana em frente à estátua de Winston Churchill na Praça do Parlamento, em Londres).

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